segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Abelha, abelhinha... Acabou chrare

A escolha deste honorável título, cedido a mim em um devaneio na sacada enquanto ouvia esta belíssima canção, não foi ao acaso. Era uma tarde de sol, precedida (esqueci-me de citar) por uma leve tristeza dos deuses, que choraram. A sacada estava um pouco molhada, com algumas poças... No entanto, tudo depende do referencial; a mesma, na verdade, estava inundada, pelo menos era o que me parecia vendo aquela pequena abelha tentando se livrar de uma poça à qual estava emaranhada.
Aquela imagem era no mínimo imperceptível, ou até desprezível. No entanto, era, na realidade, intrigante e hipnotizante. Não consegui cessar o olhar àquela criatura, esqueci-me de todos os fluxos de pensamento que em minha cabeça corriam, esqueci-me de mim, para ser aquilo. A agonia, a angústia e o sofrimento por vê-la se contorcendo e batendo asas em vão, sufocou-me. Parei, pensei, e indaguei o que deus (se deus houvera) estaria esperando para findar com a dor daquela pobre criatura, se iria abençoá-la ou castigá-la. Pensei mais, e senti-me capaz de executá-la com o poder do carrasco. É claro que não faria isto, nunca! Meus olhos não fitavam nada senão aquela cena, não pensava em nada senão naquele sentir. Parei, pensei. O que tanto ela aguardava?
Quiçá seja eu o deus que aquele pequeno ser estava esperando, ora para puní-lo por um ato pecaminoso e egoísta, ora para perdoá-lo do mesmo; ou até para louvá-lo por levar sua vida digna e puramente. Não hesitei a pensar, apanhei uma folha a qual a árvore refugou (por quê? Vá lá, ela devia ter seus motivos) e assisti a abelha, erguendo-a daquele labirinto umedecido. Levantei-a suavemente, sutilmente, e após seu primeiro bater de asas, joguei-a ao vento. Seu voar era mais magnífico que o de qualquer ave, e mais ingênuo que o de seus filhotes no primeiro empurrão. Ela voava como se fosse a primeira vez, desengonçada e decidida, e não há dizeres que cantem como fora assistir àquilo. Talvez seja equiparado a um pai quando vê sua prole dar os primeiros passos, a primeira conquista; ou até, quando um professor assiste aos seus pupilos voarem, depois de tantos empurrões, com suas próprias asas.