segunda-feira, 8 de março de 2010

A parte de mim fora de mim

José de Alencar usa, em 1865, a obra Iracema para contar o início da (nossa) história brasileira e tentar formular, desde aí, um conceito inicial de Nação Brasileira. Desde já podemos atribuir a esta população o fato de não formar um grupo étnico homogêneo, que provém da miscigenação de etnias ao redor do globo, como se vê em Iracema quando a grande metáfora do livro expõe a relação amorosa entre Martim (português e, consequentemente, europeu) e Iracema (índia do continente Americano ainda não explorado pelo europeu), sendo que desta união nasce Moacir, o “primeiro” brasileiro legítimo.
O processo de formação do Brasil como um Estado independente e nacional não foi do dia para a noite. De fato, pode-se dizer que o “’Grito’ da Independência” deu-se em sete de setembro de 1822, com data e hora marcada, porém uma formação nacional não acontece de maneira agendada, mas sim é fruto de um sentimento nacional ascendente de uma “sociedade em ebulição”.
O sentimento que une o povo brasileiro, muita vez, não é expresso com clareza, seja através de um valor, uma crença ou uma cultura unificada. No entanto, em cada canto deste país, a dura que a mãe brasileira dá em seu filho pequeno quando este desacata a uma ordem sua será mesma, independente de etnia ou classe social; as lágrimas que escorrem no rosto de um pai quando seu filho ingressa na Universidade são as mesmas de norte a sul; o Deus ao qual as pessoas rezam buscando apoio é, olvidando-se as religiões, o mesmo. Apesar de negado, o sentimento patriota que faz do país uma nação está presente em vários momentos – históricos ou não – na vida do brasileiro.
Os brasileiros somos nação quando cantamos junto a Carmen Miranda com seu “south american way” e rimos com a malandragem de Zé Carioca na mídia internacional; os brasileiros constituímos nação quando choramos o suicídio de Getúlio, a morte de Tancredo e a batida de Ayrton; os brasileiros formamos nação quando juntamos a família para assistir ao último capítulo da novela; os brasileiros nos identificamos como nação quando festejamos o Carnaval, dançamos ao som de Jorge e Simonal e pulamos ao comemorar o balançar da rede do time adversário. Como já dizia Drummond: “Meu país, esta parte de mim fora de mim constantemente a procurar-me. Se o esqueço (e esqueço tantas vezes) volta em cor, em paisagem”.