segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Primeiro Perdão

Pensa em um mundo oriundo
Sem os sabores e odores
Que lhe dão um charme de invejar-me

O que seria do esforço sem a fadiga,
Do que se vive junto sem a intriga,
Ou até do remorso sem o acontecimento?

Imagina uma criança que não é cândida
Ou também uma fronteira sem alfândega
Um frio, sem acalento

De que vale a relação, sem ciúme;
Cheirar flores sem perfume;
E a poesia sem deslumbramento?

O que é o amor, sem amor,
A pimenta sem ardor,
E a vida a dois, sem um [leve] esquecimento?

Por essas e outras, não faças de mim
Um Jesus para tua cruz.
E lembre-te que para cada esquecimento
Vêm-me mil acontecimentos
Que, juntos. fizemos reais.
(Confesso que posso até ter sido hiperbólico
Na escolha dos mil
Sendo que em um mês,
Tantos são improváveis;
Improváveis... talvez.
Porém, [pelo que se passou] não impossíveis)
Perdoo-te por não me lembrares.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Abelha, abelhinha... Acabou chrare

A escolha deste honorável título, cedido a mim em um devaneio na sacada enquanto ouvia esta belíssima canção, não foi ao acaso. Era uma tarde de sol, precedida (esqueci-me de citar) por uma leve tristeza dos deuses, que choraram. A sacada estava um pouco molhada, com algumas poças... No entanto, tudo depende do referencial; a mesma, na verdade, estava inundada, pelo menos era o que me parecia vendo aquela pequena abelha tentando se livrar de uma poça à qual estava emaranhada.
Aquela imagem era no mínimo imperceptível, ou até desprezível. No entanto, era, na realidade, intrigante e hipnotizante. Não consegui cessar o olhar àquela criatura, esqueci-me de todos os fluxos de pensamento que em minha cabeça corriam, esqueci-me de mim, para ser aquilo. A agonia, a angústia e o sofrimento por vê-la se contorcendo e batendo asas em vão, sufocou-me. Parei, pensei, e indaguei o que deus (se deus houvera) estaria esperando para findar com a dor daquela pobre criatura, se iria abençoá-la ou castigá-la. Pensei mais, e senti-me capaz de executá-la com o poder do carrasco. É claro que não faria isto, nunca! Meus olhos não fitavam nada senão aquela cena, não pensava em nada senão naquele sentir. Parei, pensei. O que tanto ela aguardava?
Quiçá seja eu o deus que aquele pequeno ser estava esperando, ora para puní-lo por um ato pecaminoso e egoísta, ora para perdoá-lo do mesmo; ou até para louvá-lo por levar sua vida digna e puramente. Não hesitei a pensar, apanhei uma folha a qual a árvore refugou (por quê? Vá lá, ela devia ter seus motivos) e assisti a abelha, erguendo-a daquele labirinto umedecido. Levantei-a suavemente, sutilmente, e após seu primeiro bater de asas, joguei-a ao vento. Seu voar era mais magnífico que o de qualquer ave, e mais ingênuo que o de seus filhotes no primeiro empurrão. Ela voava como se fosse a primeira vez, desengonçada e decidida, e não há dizeres que cantem como fora assistir àquilo. Talvez seja equiparado a um pai quando vê sua prole dar os primeiros passos, a primeira conquista; ou até, quando um professor assiste aos seus pupilos voarem, depois de tantos empurrões, com suas próprias asas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Soneto do Primeiro Quarteto

Não busco um amor de uma vida só
Mas quero aquele que amarra no nó
Da paixão, do sofrer, e do amor
Da solidão, do prazer, e da dor

O que foi a mim cabido explicar
Está em livros maiores que o Mar
Diz-se que é fogo, ferida e dor
Vários caminhos pra dizer amor

Quiçá seja antagônico à sorte
E esteja além da vida e da morte
A ele fui fiel a todo instante

E fiz da vida a aventura errante
Que eu posso dizer que amei e vivi
Até a última chama que senti

domingo, 14 de junho de 2009

Um exemplo a não ser seguido

Nos últimos dias, deparei-me diante uma atividade intricada e intrigante. Através dela viajei pela História, na tentativa de compreender e discorrer sobre o que de fato tinha ocorrido após tantas guerras, revoluções e ideologias. E se realmente suas crenças foram incorporadas da maneira como queriam (ou deveriam) ter sido.
Instantes antes de a bastilha ser tomada, Robespierre proferia discursos que hipnotizavam até o mais leigo dos franceses, levando-os a crer que o mundo mudaria após uma das mais importantes das revoluções já realizadas. Marechal Dodoro da Fonseca estava montado em seu cavalo junto a outros membros da elite brasileira (obviamente a que se localizava em São Paulo) quando griatava "liberdade!" inúmeras vezes ao cantar o "Hino à Proclamação da República", e assistindo a isso, o povo olhava deslumbrado acreditando que a partir daquele momento, um novo sistema prevaleceria em nossa humilde nação tupiniquim, o qual procuraria atender aos interesses gerais de todo cidadão. No dia 9 de novembro de 1989, cai o maior símbolo de uma guerra marcada não apenas por mortes, mas também por divergências ideológicas que faziam o possível e o impossível para tentarem convencer o mundo de qual seria "a mais eficaz".
As meras ciatções acima nos induzem a três (extremamente) importantes fatos históricos que determinaram o mundo onde hoje vivemos, e que podem culminar em poucas (porém significativas) palavras, levando-me a questionar tais escolhas lexicais. Liberdade (remetendo-nos também a igualdade e fraternidade)? Direitos? Promessas? Mudanças? Farsas? Opressores e Oprimidos? bla, bla, bla... Talvez a resposta para as minhas perguntas nunca seja obtida, uma vez que a história não permite o uso da partícula condicional "se", resumindo-se apenas em fatos. A primeira coisa na qual pensei deixou-me desiludido, tudo não passava de uma enorme farsa, uma troca de oligarquias no poder, movidas pela ganância e pelo desejo de impor suas doutrinas e leis, e que todo o "auê" dos direitos do povo eram meramente ilustrativos. Talvez isso tudo seja verdade. Talvez não, já que o mundo foi modernizando-se ao decorrer de sua linha do tempo. Não vivemos mais em um sistema absolutista, nem em uma sociedade estamental e obrigatorialmente católica (obrigatoriamente mesmo, afinal, se você não fosse submisso à igreja, morreria!), e muito menos somos oprimidos por uma minoria que nos explora para manterem seus luxos. Hoje tudo é diferente! Somos livres, temos o direito de assim sermos. Podemos fazer o que quisermos e falar sobre o que quisermos. E além do mais, vivemos em uma democracia (aah, a democracia)... Viva a democracia! afinal, é através dela que as massas (vulgo povo, nós) elegem seus ilustres representantes, e estes fazem o que for preciso para garantirem seus interesses. [fim da ironia, se porventura alguém pensou que houvese alguma]
Li e reli o que estava ao meu alcance sobre os marcos históricos em questão, procurando formular uma opinião concreta sobre o elo entre os três. Compreendi. Celebrei. Refleti. Revoltei-me. Refleti (novamente). Desapontei-me... por fim, conformei-me (assim como todo cidadão brasileiro o faz, diante do belo exemplo dado pela nossa história, sociedade, economia e política).

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Os óculos da mente

O tempo é o culpado pela minha escassez de sono, já que este consumiu o meu dia em visitas familiares, estudos e boa leitura. A noite nasce e deparo-me diante de uma cidade que dorme após um domingo de páscoa, refletindo sobre o que me viesse em mente. Despertei. Acompanhado de boa música, um bom estímulo, e um bom tema para meus pensamentos, remeti-me a um passado não muito distante no qual eu trocava minhas noites de sono por conversas comigo mesmo sobre assuntos diversos (sejam eles existenciais, críticos, ou inúteis). A reflexão que me apareceu foi, a meu ver, interessante e resolvi convertê-la em humildes palavras aqui eternizadas.
Através dos olhos (e de nossos pensamentos) enxergamos tudo de diversificadas maneiras, cada um com sua visão de mundo, diferente da do próximo. Entretanto parei e analisei alguns modos peculiares e (por que não?) interessantes de ver as coisas. Pense em um teólogo, um médico, um fotógrafo, um literário e um artista, cada um capta o que o mundo lhes mostra de uma maneira diferente. O teólogo coloca o toque de deus em tudo o que vê, observando assim uma beleza divina nas coisas, limitando-se somente ao que suas crenças o fazem enxergar. O médico, junto a sua sede de conhecer, explora o que o mundo o oferece, procurando sempre ver e analisar. O fotógrafo vê o mundo como uma arte já feita, pronta para ser capturada e eternizada, transformando o que era imensurável em centímetros quadrados. O literário procura sempre interpretar em palavras e reflexões sábias o que seus olhos lhe mostram, este vê o mundo pela beleza das letras. O artista, ah! o artista... a beleza enxergada por ele vai além de captar e ler, mas sim criar! Este desvenda as excentricidades do mundo e cria a beleza nele estabelecida, porém é dificilmente vista por todos, ou pelo povo, já que estes tem uma visão diferenciada das anteriormente citadas. As massas não tem uma visão própria estabelecida, sua visão é baseada no que lhes é imposto, e não no que se é pensado entre eles. Eles não tiveram uma base suficientemente boa para a formação de pontos de vista, favorecendo que fossem facilmente manipulados.
Quando um médico vai visitar o Rio de Janeiro, por exemplo, este vai atrás de conhecer a cidade, explorá-la, vê-la; o fotógrafo captura as belezas, as tristezas, as cores da cidade; o literário lê a cidade; e o artista se apaixona. Já as massas... estas não vão à cidade, já que elas sabem da bandidagem, das drogas, da violência, o suficiente para não quererem colocar os pés nela.
A televisão é os olhos do povo!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Se arrependimento matasse...

Esses dias deparei-me com um pensamento estranho, porém interessante. O "passado" veio-me à cabeça, provavelmente fruto de algum sonho do qual não me lembre (como sempre), contudo isso é assunto para outro "post". O que realmente importa é que pensei e repensei sobre ele e por pura coincidência (ou não), ao fim do dia, deparei-me com esse assunto diante de colegas. Como disse, o dia estava morrendo, e o céu chorava diante deste falecimento, o que não me impediu de regressar à minha residência a pé, literalmente de pés descalços (pelo menos a chuva ajudou para que estes chegassem limpos em casa). No caminho refleti sobre o passado, mas não esse passado mesquinho e pessoal que pensam, como um ex-afeto ou arrependimentos supérfluos, não.. e sim o passado de um modo geral, o nome em sua essência, algo que passou.
Eu acho que de vez em quando todos colocam a mão na consciencia e se arrependem de algo passado, ou até se arrependem de tal maneira que chegam a pensar que se fosse possível voltar no tempo, voltariam para tentar mudá-lo. Mas será que vale a pena mudar algo que já fora consumado e teve suas demasiadas consequências acomodadas no presente? Imagine se banalizassem a viagem no tempo (se fosse algo real, claro).. tudo de "errado" que foi feito seria anulado, tudo o que as pessoas se arrependem ardorosamente de terem feito, seria abolido de seu passado. Será mesmo que essa fuga por desfazer o que já feito vale a pena? Será que viver uma vida de fugas e alívios ilusórios traria a satisfação desejada? A meu ver, se todos resolvessem excluir atos "arrependíveis" (fiz um neologismo pois não achei palavra alguma que se encaixasse aqui), elas não só estariam pondo fim em seu arrependimento e no sentimento ruim causado a outra pessoa, mas também estariam abolindo significado do perdão, e por que não dizer que estariam extinguindo o próprio perdão em si?
Se arrependimento matasse, estaríamos todos mortos. Mas como não mata, temos a chance de nos arrependermos e "mudarmos o passado", e quando digo isso não estou querendo me contradizer nem ser hipócrita em afirmar que deveríamos voltar no tempo e desfazer o que foi feito, nós mudamos o passado através do arrependimento que faz com que nossos erros não tornem a se repetir, de tal maneira que o que passou, seja somente passado, que o rancor vá embora, e que somente sobre.. o perdão.