domingo, 30 de maio de 2010

A Minha Motriz

Certamente alguém já lhe colocou frente a caminhos dentre os quais é difícil uma escolha uníssona em nossas mentes. Alguém novo, velho, amigo, amante; amigo grande do qual se espera tudo, amigo velho de que não se sabe o que esperar, amigo novo que se não quer temer esperar. Admito que até mesmo eu me coloque diante de tais trilhos. Quiçá seja pela minha carência de música que o fiz de novo, quiçá não.
"Qual música, se fosse para escolher apenas uma, você colocaria no pedestal de sua vida?". Difícil, dificílima resposta. Considero-me dependente desta coisa: música; e de tudo o que dela provier. Alimenta-me a alma – a minha alma.
Logo de chofre pensaria: "The End", não hesito. Não posso me dizer de algo que seja mais hipnotizante, penetrante, que me talha a alma e rege o clamor dentro dela com harmonia. A intertextualidade entre o que sinto, entre a música, entre a própria música, e entre o devir da vida é gritante a mim. O início que é fim, o fim que é início. O que mais me faz sentir tão fora e tão dentro de mim? Hesito: mas e o resto? Irei ignorá-las como se não tivessem significado algum a mim? "Todos os dias nascem deuses, alguns maiores e outros menores do que você", já me disse um dia Du Peixe. Eu precisei de Bob Dylan para saber que "the times they are a-changing", para ler o blues da lápide. Resgato todo dia meu folk sobre um cavalo sem nome, mostrando-me que sem ninguém posso lembrar-me muito bem de quem sou.
Instantaneamente saio de mim para declarar "Emergency On Planet Earth"! Declarar emergência, declamar compaixão. Declino então a dúvida: o que faz do mundo tão assim, tão ruim? Olhemos a todos, vemos que o amor está dormindo - profundamente, dormindo Enquanto minha guitarra, gentilmente, chora. Chora por um mundo que está ao contrário e ninguém repara... o que está acontecendo? Vive-se constantemente em “estado violência”, num mundo onde seus cidadãos – ou homens-primatas - balbuciam “AAUU”, um bando de bichos escrotos. Sinto-me cada vez mais alheio a este mundo, distancio-me dele. Espero que, sem mim, ela não se sinta só, oh "society"! Antes com Chico Science, depois com a ciência do Chico, Nação Zumbi, "respirando", tenta aspirar (a) um mundo no qual nem tudo ainda se tenha sido vendido, evitando acreditar que, nele, há necessidades adquiridas na sessão da tarde. A revolução não vai passar na tv.
Tendo olhado para mim, e, posteriormente, olhado o mundo através da lente da música, retorno a mim mesmo, esperando alguma transcendentalidade, algum “Bom Senso”. Esperando, assim como Manu Chao, que “mr. Bobby” cante algo bom para mim. Aí que me engano, Rita e Gil já o fizeram, fizeram até meu mundo ficar “odara”. Já tinha também Jorge cantado “mas, que nada!”, quando o nada se desfez e eu me entreguei a esta dança, a este samba, que é misto de maracatu. Ah, como eu queria que ele não chegasse no final. Mas chegou, “summertime” veio e trouxe um pouco da realidade, um pouco do que deveria ser o não-ser. Queria ser eu um “highwayman”, fugindo com Johnny e Janis em nossa “mercedes-Benz”. Fujo, volto, venho, vou... Alguém alguma vez disse: “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. A vida às vezes é triste, às vezes quase sempre. Mas pelo menos a tristeza tem sempre uma esperança: de um dia não ser mais triste (não).
Assim, abençoado por seu samba, abençoado por ele, esse alguém qualquer que sempre me reluz com seus algo’s a dizer, ponho eu um pouco de amor na minha vida. Amor é um tema fecundo e que se faz centro gravitacional de muitas canções, muita vez genialmente, muita vez não. Para estreá-lo, lembremo-nos da primeira vez, como tudo começa. Aquela garota, apenas 17, uma beleza incomparável. Ela olha, eu olho, você entende. Você também a viu parada lá, “I Saw Her Standing There”. Tem algo nela, no jeito em que ela se move, em seu sorriso, algo que não me deixa pensar em outra coisa... esse tal “something”. Será que ela quererá, será que ela quer? Ela aparece, ele aparece, não sei bem em qual ordem. Tiram-me um pequeno pedaço do meu coração, com e sem permissão. Esta forasteira flecha do cupido nos faz gritar “minha menina”, faz com que queiramos amar e ser amados duas, três, quatro vezes, sem nos cansarmos dele. Vem comigo, num domingo, voar no meu balão; num voo constante e inconstante, um eterno que é efêmero, um poço infindável de paradoxos que se completam. “Que Loucura!”, que coisa louca que é esse amor. E eu quero mais, você quer mais, queremos “whole lotta love”. Queremos tudo, nem sabemos direito o tudo que queremos. Posto que o querer seja abstrato, o não-querer é um só, é apenas o fim. No entanto, assim como a morte deve transcender seu mero significado de ser algo do qual devemos apenas fugir, o amor não deve ser omitido valendo-se do pretexto de seu fim. Orgulhamo-nos ridiculamente de "woman is the nigger of the world", mesmo quando dentro de nós bradamos
“don’t let me down”, um berro muita vez mudo, que nos consome pelo fato de não sabermos lidar com mais nada. O amor é a engrenagem que move a alma, que move o mundo, da melhor mais bela maneira possível. É ele a energia racional (ou irracional) intrínseca ao ser humano, em todos é capaz de se manifestar e ser exercida, independente de cor, etnia ou classe social. Entretanto, antes de ser cultivado, o amor deve ser semeado, processo o qual fora esquecido.
"Qual música, se fosse para escolher apenas uma, você colocaria no pedestal de sua vida?". Difícil, dificílima resposta. Considero-me dependente desta coisa: música; e de tudo o que dela provier. Alimenta-me a alma - a minha alma. Tento reproduzir e transmitir tudo o que aprendo, assim como o que ouço e aprendo ouvindo, por isso não me considere um mero pastiche de produções musicais, nem mesmo uma compilação delas. Afinal, se eu respondesse que há apenas uma música que defina minha vida, esta vida não seria a minha; já que nela eu vivo todas as canções.

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